Um dos fundadores do Socialismo Democrático - António Sérgio

António Sérgio de Sousa (Damão, 3 de Setembro de 1883 — Lisboa, 24 de Janeiro de 1969) foi um importante intelectual e pensador português, monárquico democrata, socialista.





Biografia

Nascido na Índia Portuguesa, foi influenciado pelo contacto com várias culturas. Viveu alguns anos em África, tornando-se uma personagem cosmopolita pois, seguindo uma tradição familiar, estudou no Colégio Militar, completando o curso da Marinha de Guerra, na sequência do que viaja a Cabo Verde e Macau. Abandonou a Marinha com a implantação da República em 1910.

Filho e neto de marinheiros e governadores coloniais, também ele começou por estar destinado à carreira dos vice-almirantes da família. Para tal frequentou a instrução secundária do colégio militar, seguiu depois a Escola Politécnica como forma de se preparar para a Escola Naval, onde adquire uma boa base matemática. Depois disto estagia em Macau e em Cabo Verde.

Desde cedo é cativado pelas obras de Antero de Quental. Aquando da Proclamação da República, troca a carreira de oficial da marinha pela de intelectual. Assim, o Visconde Sérgio de Sousa, título que nunca usou de ascendência e formação monárquicas, demite-se da Marinha, porque não quis servir nas Forças Armadas da República, dedicando-se antes à investigação das causas da “decadência portuguesa”. Contudo, refira-se que Sérgio nunca foi monárquico, nem republicano convicto, inclinando-se antes para as ideias de esquerda.

Durante os 10 anos que se seguiram, teve a oportunidade de viajar pelo mundo a trabalho, nomeadamente pela Inglaterra, França e Brasil, e criou em 1910 uma revista de especialistas que se encarregariam de preparar as reformas consideradas mais urgentes. Denominada de Pela Grei, foi uma revista pelo ressurgimento nacional, pela formação e intervenção de uma opinião pública competente.

Pertenceu ao grupo da Renascença Portuguesa, o qual procurava através da acção cultural, reconstruir o país. No entanto, saíu em 1913, devido a dissidências com a doutrina de Teixeira de Pascoaes.

Fundou a Seara Nova[2] em 1921 juntamente com Jaime Cortesão e Raúl Proença. Surgem, assim, opinões diferentes quanto às soluções para o estado do país:

Sérgio não considerava a questão república/monarquia importante, no entanto nunca se afirmou demarcadamente republicano. Importante seria o progresso económico e moral de Portugal. Fala do "Socialismo", embora esta sua ideia não seja, nem de longe, aparentada com o socialismo marxista. Sérgio estaria situado numa linha política social-democrata, admirando a Inglaterra, um posicionamento semelhante ao que seria adoptado pelos países da Escandinávia. A sua acção foi marcadamente voltada para a problemática da Educação. O século XIX português fora caracterizado por reformas que raramente passaram dos textos legislativos ou declarações de intenções.


A acção política de António Sérgio

António Sérgio deve ser visto como político. Henrique de Barros e Fernando Ferreira da Costa, foram amigos de Sérgio, e, como ele, opositores do regime de Salazar. Para ambos, Sérgio queria algo original: um socialismo associativista, libertador ou mesmo libertário, a criar de dentro para fora, pacificamente, pela extensão gradual mas ilimitada do princípio cooperativo. Homem cultíssimo e de grande curiosidade mental, leitor permanente e crítico, conhecia bem as obras de Marx e não ignorava a vida e as acções deste, mas "nunca foi marxista nem revelou tendência para o ser, como é geralmente sabido e já aqui começámos, logo por fazer notar."[15]

Acrescentam ainda:

"tendo chegado nos seus últimos anos de vida, recolhido em casa, à estranha conclusão de que a sua obra falhara, ressalvava contudo o seu combate pelo Cooperativismo como a única coisa que daquela se aproveitava e assim legaria ao seu país. Isto mesmo declarou ele a diversos amigos, que o visitavam na sua acolhedora casa da Travessa do Moinho de Vento, à Lapa, entre eles a nós próprios, ao afirmar a convicção em que estava, naquela passagem da década dos 50 para a dos 60, de que a sua obra resultara estéril, essa obra sem par entre nós de filósofo, ensaísta, doutrinador político, agitador social fecundo, fomentador de novas ideias, professor vocacionado, crítico literário arguto e inconformista, Historiador original sempre com os olhos postos no futuro, prosador admirável e dúctil, Poeta talentoso, Dramaturgo interessante, jornalista que aliava a acessibilidade do texto à elevação dos conceitos."[16]

[17]

A luta política de Sérgio contra o regime não parou e só esmorecia quando as circunstâncias eram por de mais impeditivas da expressão do pensamento.[18] Tendo acabado por se convencer, após o seu regresso ao país em 1933 e até ao insucesso da candidatura Norton de Matos, de que o sistema nunca se liberalizaria a ponto de procurar quem o continuasse ou lhe sucedesse recorrendo a eleições honestas, o pensador voltou a ser conspirador activo e passou de novo a privilegiar uma solução de índole militar.

" Esteve intensamente envolvido na preparação e na execução da candidatura presidencial de Humberto Delgado, mas já então mais convencido de que esta redundaria num golpe militar em vez de umas tranquilas eleições democráticas. (…)"[19]

Para Henrique de Barros e Fernando Ferreira da Costa,

"Quem um dia conseguir fazer a história meticulosa da resistência militar ao antigo regime, após a grande guerra, com as suas muitas conjuras e raras sublevações, comprovadora de que as Forças Armadas, embora continuassem a ser o suporte principal do status quo, nunca estiveram coesas na defesa deste, como não haviam estado antes da guerra mundial, há-de certamente deparar a cada passo com a figura «intrometida» de António Sérgio. (…) Foi Sérgio quem, após com ele se ter relacionado com finalidades conspiratórias, lançou o nome de Humberto Delgado, recém mas veementemente convertido à Democracia, para candidato oposicionista apto a vencer as eleições presidenciais de 1958. Com o seu temperamento dadivoso e combativo, foi também ele, Sérgio, um dos que mais intensamente se empenharam na luta pela aceitação desta candidatura por todas as forças oposicionistas, como veio a acontecer após a desistência de Arlindo Vicente, e um dos que mais se envolveram na ingrata campanha que o «general sem medo» conduziu e que acabou por o levar, poucos anos depois, à horrorosa tragédia que os portugueses jamais deverão esquecer."[20]

Em 1993, José Freire Antunes, na obra Salazar Caetano cartas secretas 1932-1968 voltou a afirmar o papel de António Sérgio nas dificuldades do salazarismo, dizendo que o Presidente da República de então, Craveiro Lopes, exigiu a Salazar a demissão de Santos Costa, grande apoiante do chefe do governo - tendo Salazar cedido, depois de se sentir ameaçado por Craveiro Lopes, que o poderia ter demitido."A campanha eleitoral de Delgado «à americana» mobilizou multidões, convulsionando literalmente um país a que Salazar incutira a habitualidade bloqueadora das emoções."[21] Era completamente diferente a acção do Partido Comunista da dos social-democratas, como Sérgio. António Sérgio viria a declarar que as eleições tinham sido uma "farsa indecorosa". Humberto Delgado disse em público, em relação a Salazar, caso eleito Presidente da República: "obviamente demito-o". Mas em 1965, Humberto Delgado foi assassinado e Portugal mergulhou cada vez mais nas guerras de África - desde 1961 - em Angola, Moçambique e Guiné Bissau. Em 1968 Salazar foi substituído por Marcelo Caetano e em 1974 as Forças Armadas, finalmente, derrubaram o regime que elas mesmas tinham começado, em 1926.[22]

Vemos hoje o que foi a vida de Sérgio pela seguinte síntese:

"Sérgio foi preso em 1910, 1933, 1935, 1948 e 1958. E a propósito das últimas quatro vezes pensou (e depois escreveu) que foi na prisão que encontrou a verdadeira «união nacional» - de oposição à ditadura militar, primeiramente, e, depois, a Salazar, ao Estado Novo, ao fascismo."[23]

O essencial da actividade política de Sérgio é sempre enquadrável com o seu aspecto teórico - a ligação à Democracia, à Liberdade, como via para a Educação e Cultura.

Fonte : Wikipédia
Fonte Forum Realistas

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